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Flora intestinal e obesidade

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde a obesidade é uma doença crónica em que o excesso de gordura corporal acumulada poderá afetar a saúde e bem-estar. Este excesso de massa gorda advém de sucessivos balanços energéticos positivos, ou seja, a quantidade de energia ingerida é sucessivamente superior à quantidade de energia “gasta”, dissipada. Para este desequilíbrio contribuem vários fatores tanto genéticos como metabólicos, ambientais e comportamentais, desta forma a obesidade é uma doença de génese multifatorial que constitui uma ameaça para a saúde e ainda fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças.

 

De acordo com o Relatório Health at a Glance 2019 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) Portugal é um dos países com uma taxa de excesso de peso e obesidade superior à média da OCDE, que rondará os 55,6%. Mais precisamente, e de acordo com o documento, 67.6% das pessoas com mais de 15 anos têm excesso de peso.
A flora intestinal, ou microbiota intestinal, é um termo que recorrentemente ouvimos falar pois é algo que nos é próprio, de forma muito geral a microbiota intestinal é a comunidade de microrganismos que está presente nos nossos intestinos. A microbiota trata-se de uma simbiose dinâmica de várias espécies de microrganismos cuja composição varia ao longo de todo o trato gastrointestinal. A maior concentração de microrganismos é encontrada no intestino grosso sendo que a partir do íleo a sua concentração aumenta gradualmente. De forma geral a microbiota intestinal desempenha funções fisiológicas importantes no nosso organismo relacionadas com o metabolismo de nutrientes, síntese de vitaminas essenciais, regulação da imunidade e manutenção da nossa mucosa intestinal, uma importante linha de defesa (Louise & Sunny, 2018). O desenvolvimento da microbiota resulta da interação de fatores genéticos, contacto com o meio ambiente, doença e alimentação sendo que esta última contribui bastante para a sua diversidade e para a prevalência (ou não) de determinadas espécies. A sua composição é diversa e pode conter entre 400 a 1000 espécies diferentes, algumas benéficas ao hospedeiro (nós) e outras que poderão ser potencialmente patogénicas. Atualmente a microbiota já é considerada como determinante de peso da saúde/doença e alterações no seu equilíbrio têm sido associadas a diferentes patologias como obesidade, diabetes mellitus e fígado gordo não alcoólico (Louise & Sunny, 2018).

 

O padrão dietético ocidental tem vindo a sofrer modificações no último centenário, a evolução industrial e tecnológica permite que o acesso e a disponibilidade alimentar se tenham alterado significativamente durante este período. Atualmente observa-se um maior consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares simples e proteína em detrimento do consumo de fibra alimentar. Este padrão alimentar rico nestes constituintes em específico potenciam uma menor diversidade da microbiota intestinal e perturba a sua composição originando disbiose, um desequilíbrio na composição taxonómica da microbiota intestinal que, como já vimos tem um importante impacto no metabolismo pois permite a recuperação de nutrientes que, de outra forma, estão inacessíveis ao nosso organismo. Estudo experimentais sugerem que perfis específicos da microbiota parecem aumentar a eficiência energética através da fermentação de alimentos não digeríveis fornecendo mais energia ao hospedeiro (Ley et al., 2005; Compare et al., 2016; Koliada et al., 2017; Kvit and Kharchenko, 2017; Riva et al., 2017; Shang et al., 2017). A absorção intestinal de monossacarídeos e a extração energética como produção de ácidos gordos de cadeia curta, combinado com a estimulação subsequente de triglicerídeos no fígado pode impulsionar o ganho de peso (Isolauri, 2017). Serão estes mecanismos, por si só, suficientes para impulsionar de tal forma o desenvolvimento de obesidade?

 

Estudos metagenómicos confirmam que é possível distinguir metabolicamente indivíduos não saudáveis de indivíduos saudáveis com base nas características da microbiota intestinal onde é possível detetar diferentes filos predominantes (Renyuan, 2017). É necessário reconhecer que as demonstrações atuais estão ainda longe de serem completas na identificação precisa de constituintes específicos como agentes causadores (Louise, 2017). Esta relação tem motivado bastante interesse mas o que se conhece ao momento é muito precoce, apesar de grandes descobertas teres sido já feitas ainda são muitas as questões que se levantam. Ao momento os ensaios clínicos indicam fortemente que poderá haver uma relação entre a obesidade e a microbiota intestinal, mais estudos serão necessários para compreendermos melhor os mecanismos e a relação causal, no entanto, e caso futuramente consigamos evidência mais forte nesse sentido, esta está longe de ser uma das principais causas de obesidade, hoje em dia sabe-se que os hábitos alimentares desadequados, o sedentarismo e as influências sociais e ambientais são os fatores apontados como contribuidores de maior preponderância.

 

O conteúdo deste artigo é de carácter informativo e não deve ser interpretado como aconselhamento profissional. As opiniões contidas não devem ser usadas para diagnóstico e/ou tratamento de problemas de saúde. É sempre imperativo o aconselhamento com profissionais de saúde antes de aplicar qualquer dieta ou regime alimentar.
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