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Alimentação na flora intestinal

 

A influencia da alimentação na flora intestinal

 

A microbiota intestinal, ou flora intestinal, é a comunidade de microrganismos que está presente nos nossos intestinos; trata-se de uma simbiose dinâmica de várias espécies de microrganismos cuja composição varia ao longo de todo o trato gastrointestinal. A maior concentração de microrganismos é encontrada no intestino grosso. Numa situação fisiológica normal esta população de microrganismos encontra-se em harmonia com o hospedeiro e tem como principal função constituir uma barreira de proteção que permite afastar agentes nefastos para o organismo, se esta barreira sofrer alterações ou desequilíbrios poderá então originar perturbações (Louise & Sunny, 2018).

 

Para além de constituírem uma barreira de proteção a microbiota intestinal tem um papel importante na captação de nutrientes, síntese de vitaminas, modulação inflamatória e resposta imunológica do hospedeiro, neste sentido e dada a sua vasta ação no nosso organismo contribui de forma considerável para a saúde humana. Uma hipótese muito, muito recente vem ainda relacionar a possibilidade de influência da microbiota intestinal na performance desportiva, resultados bastante promissores têm sido encontrados nessa direção (Alex E. Mohr, et al. 2020).  

 

O primeiro contacto que temos com microrganismos ocorre fundamentalmente na altura do parto e, a partir daí, todo o ambiente que nos rodeia vai modular a nossa microbiota intestinal. Fatores como tipo de parto, amamentação, uso de antibióticos, idade, uso de tabaco, stress e alimentação podem contribuir para que a composição da microbiota seja diferente e em diferentes períodos de vida (Alex E. Mohr, et al. 2020). 

 

De acordo com pesquisas recentes indivíduos com um estado de doença conhecido têm uma composição de microbiota significativamente diferente quando comparados com indivíduos saudáveis. É comum observar-se uma maior diversidade de espécies em indivíduos saudáveis. Apesar de determinadas composições estarem associadas a saúde, por serem mais resilientes e resistentes a disrupções a composição da microbiota intestinal, de forma isolada, não prediz diretamente um estado de saúde ou doença (Alex E. Mohr, et al. 2020). 

 

A composição em espécies varia imenso de pessoa para pessoa e, para além do ambiente que se cada um de nós se insere, a alimentação é um modulador bastante incisivo da microbiota intestinal onde podem ser observadas alterações significativas no prazo de 24h após a mudança de dieta. Os diferentes componentes alimentares, padrões e nutrientes, têm potencial para alterar substancialmente o crescimento de diferentes populações desta forma através dos nossos hábitos podemos estar a “escolher” que populações vão ser potenciadas. Apesar das nossas escolhas terem uma influência nos nossos hóspedes também a sua atividade tem uma influência em nós hospedeiros já que a microbiota produz e liberta uma grande variedade de compostos que podem atuar de forma a modular o nosso apetite, a motilidade intestinal, a captação e armazenamento de energia e o gasto energético. Esta poderá ser uma novidade para muitos nós e muito possivelmente nunca pensamos na nossa “flora intestinal” neste sentido, mas a interação entre microbiota-hospedeiro pode afetar o balanço energético e implicar o ganho ou perda de peso e composição corporal (Alex E. Mohr et al., 2020). Este foi um dos aspetos explorados num dos nossos artigos anteriores sobre a relação entre a obesidade e a flora intestinal. 

 

A Dieta Ocidental tem vindo a causar alguma preocupação dadas as inovações recentes no estilo de vida, o que fez com que a alimentação enriquecesse em açúcares refinados e gorduras e potencialmente provocassem alterações na composição genética e na atividade metabólica da microbiota humana. Suspeita-se que estas alterações poderão contribuir para o crescimento epidémico de doenças crónicas nos países desenvolvidos (Lawrence A. David et al., 2013). Neste momento existe evidência que sugere que o consumo de fruto-oligossacarídeos e inulina podem promover grupos específicos de bactérias como as bifidobactérias, que têm já os seus benefícios na saúde humana bem documentados. O teor de hidratos de carbono de uma dieta parece também afetar a composição em espécies das bactérias presentes no cólon principalmente hidratos de carbono não digeríveis, como as fibras insolúveis que fermentam ao chegar ao intestino grosso. Tendo em conta que a alimentação parece realmente ter um impacto no tipo e variedade de espécies na nossa microbiota intestinal podemos assumir que a comunidade de colónias deverá estar num estado de mudança constante ao longo do tempo derivado de mudanças no nosso padrão alimentar. A resposta da microbiota às alterações alimentares e na fermentação microbiana de substratos alimentares no cólon pode estar associada a uma inter-individualidade profunda, desta forma o aconselhamento alimentar sobre o consumo de fibras insolúveis e probióticos (como as bifidobactérias) deve ser personalizado ou não se atribuía à microbiota intestinal a designação de “impressão digital”, pois é única e altamente individual (Alan W. Walker et al., 2011).

 

A investigação do impacto do exercício físico na microbiota intestinal é ainda precoce, no entanto existem já algumas referências que apontam eu em indivíduos sedentários o exercício parece modular de forma positiva a composição em bactérias intestinais e a sua capacidade metabólica no intestino humano. Os resultados são já bastante promissores sobre esta temática e muito em breve poderemos ter perspetivas bastante diferentes nesta associação (Alex E. Mohr, et al., 2020).

 

O conteúdo deste artigo é de caracter informativo e não deve ser interpretado como aconselhamento profissional. As opiniões contidas não devem ser usadas para diagnóstico e/ou tratamento de problemas de saúde. É sempre imperativo o aconselhamento com profissionais de saúde antes de aplicar qualquer dieta ou regime alimentar.

 

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