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Se treinar, posso recompensar-me, comendo o que me apetece?

A época em que estamos é indiscutivelmente um atentado à prática de um plano
alimentar, principalmente se este se pautar pela restrição calórica. O Natal acontece em duas
refeições, tal como o Ano Novo, mas a oferta de chocolates no supermercado começa em
Novembro e os jantares de Natal ajudam à festa. Este ano, com limitações no que toca aos
convívios, mas ainda assim, mantem-se a tendência para comer mais e geralmente, alimentos
de elevada densidade energética (como bombons, bolos, bebidas alcoólicas, etc). Falamos nas
festas de fim de ano, mas existem vários momentos ao longo do ano que estimulam ou
facilitam uma maior ingestão calórica, desde Páscoa, férias e poderíamos continuar.
Acrescido a isto, todos temos aquela/e familiar ou amigo, que decide aumentar as
caminhadas para compensar estes excessos ou ouvimos os comentários típicos de um ginásio
no início do Novo Ano “vou voltar a treinar para compensar os excessos do mês (ou meses)
passado”. Mas até que ponto podemos servir-nos do exercício físico como forma de
compensação pelo excesso calórica da nossa dieta?


O dispêndio energético de um indivíduo, ou seja, a energia gasta no dia a dia, depende
de vários parâmetros que passo a citar: Taxa Metabólica Basal (responsável por 50 a 70% do
dispêndio energético), atividade física ou NEAT (Non-exercise activity thermogenesis, ou seja,
atividades diárias não programadas como subir escadas, cozinhar e limpar a casa, jardinar…), o
efeito térmico dos alimentos (10 a 15%) e por fim, o dispêndio energético representado pelo
exercício físico é de 5%
. Embora haja uma ideia generalizada, de que treinar representa uma
enorme fatia do dispêndio energético do dia do indivíduo, não é bem assim. Isto significa que
treinar é inútil? Obviamente que não, treinar é uma das melhores ferramentas que temos
para cuidar da nossa saúde e não citando todos os seus benefícios, destaco que para a perda
ou ganho de peso, continua a ser um dos pilares fundamentais do processo. Apenas não é o
promotor principal da restrição energética (essencial para a perda de peso), e por isso não
deve ser encarado como tal: ou seja, não faças o teu treino a pensar sobretudo no seu gasto
energético e não o visualizes como uma forma de te “permitires” comer mais.


Curiosamente, a evidência diz-nos que as pessoas podem ter tendência a aumentar o
consumo calórico só por ler acerca de exercício físico e imaginar o seu dispêndio energético,
assim como a própria prática de exercício leva ao consumo de porções de alimentos maiores
depois de efetuados (Werle, Wansink & Payne, 2011). Este mecanismo pode ter como
explicação a inabilidade em estimar o conteúdo calórico da comida servida.


Uma forma de superar esta ligação entre treinar e acabar por comer mais, ou o
contrário, permitir um maior consumo alimentar porque vemos no treino uma forma de
compensar, não promove uma perda de peso eficaz, porque efetivamente será difícil conseguir
uma restrição eficaz desta forma. É preciso desvincular esta ligação treino- comida e pensar
mais no treino como uma forma de melhoria de força, desenvolvimento muscular, entre os
seus infinitos benefícios. A restrição calórica ou excedente calórico, devem ser promovidos
pela dieta diária, e é por essa razão que um plano alimentar deve ser personalizado e as
quantidades nele propostas tem uma base de explicação por trás, devendo ser cumpridas para
alcançar um determinado objetivo.


Resumindo, continua a treinar sempre, seja em que altura do ano for, mas nunca vejas
o teu treino como uma forma de compensar a tua ingestão alimentar.

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